quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Casa da jornalista mexicana Anabel Hernández é invadida por um grupo armado.






A jornalista mexicana Anabel Hernández, que participou em Outubro do ano passado, em São Paulo, no Seminário Internacional sobre Violência contra Jornalistas, promovido pelo Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, teve sua residência invadida por um grupo armado, em Dezembro último.


A invasão foi agora revelada pela revista mexicana Proceso e a denúncia, a seguir reproduzida, foi replicada no blog Jornalismo nas Américas da University of Texas at Austin, que abriga o Knight Center para o Jornalismo nas Américas.
Blog JORNALISMO NAS AMERICASDescription: https://knightcenter.utexas.edu/misc/feed.png




Na foto, Anabel Hernández em sua fala no Seminário Internacional sobre Violência 
contra Jornalistas em outubro de 2013.
Foto de: Fernanda Freixosa.
Um grupo armado invadiu a casa da jornalista mexicana Anabel Hernández antes do fim do ano, segundo a revista Proceso.

Mais de dez pessoas, armadas com rifles AK-47 e outras armas, cercaram a rua onde vive Hernández no dia 21 de dezembro e entraram em várias outras casas perguntando pelo domicílio da jornalista. Desligaram várias câmeras de segurança nas residências, incluindo as que estavam instaladas na casa de Hernández.
A jornalista não estava em casa na hora da invasão.
Os indivíduos, que se identificaram primeiro como agentes da Polícia Federal e depois como “zetas”, prenderam temporariamente e agrediram dois agentes de segurança designados pelas autoridades da Cidade do México para proteger Hernández, que estavam no domicílio da jornalista no momento da invasão.
Os motivos da ação são incertos. O grupo ficou no bairro da jornalista por cerca de meia hora sem qualquer providência das autoridades.
Jornalistas de diferentes organizações em vários estados mexicanos e Espanha assinaram uma carta dirigida ao presidente do país Enrique Peña Nieto e outros funcionários criticando a invasão e pedindo uma investigação do ocorrido.

“Às autoridades lembramos que a impunidade, derivada de sua omissão para investigar e punir as agressões contra jornalistas, é o contexto perfeito para que os embates continuem e, com eles, sigam em perigo não só aqueles que se dedicam a informar profissionalmente, mas a sociedade em seu conjunto, que com cada agressão vê em risco seu direito de acessar e receber informação”.
Hernández fez uma denúncia na Promotoria Especial para a Atenção a Crimes Cometidos contra a Liberdade de Expressão, que abriu uma investigação para saber se o incidente está relacionado com outras ameaças e intimidações que a jornalista vem sofrendo nos últimos três anos.
Hernández recebeu proteção das autoridades do Distrito Federal desde a publicação de seu revelador livro Os Senhores do Narco, no qual detalha as raízes do narcotráfico no México e acusa funcionários, empresários e altos escalões da Polícia Federal de conluio com o crime organizado.

Em várias ocasiões desde então, Hernández recebeu informação que Genaro García Luna, ex-titular da principal agência policial nos últimos seis anos, pretendia assassiná-la. Hernández acusou García Luna de enriquecimento ilícito e de vínculos com o cartel de Sinaloa.

Em 16 de dezembro, cinco dias antes do incidente, a revista Forbes classificou García Luna como uma das 10 pessoas mais corruptas do México e citou o livro de Hernández como referência. No mesmo dia, García Luna escreveu diretamente ao editor-chefe da revista, Steve Forbes, assegurando que o artigo se baseia em "mentiras e carece do rigor jornalístico próprio de sua revista, os argumentos da fonte que utiliza são falsos".
Embora as escoltas da Procuradoria Geral de Justiça do Distrito Federal acompanhem Hernández 24 horas do dia desde 2010, sua família foi vítima de um ataque durante uma festa de aniversário em 2011, várias de suas fontes foram ameaçadas, assassinadas ou encarceradas, e em março de 2013 a jornalista novamente recebeu informação de que se encontrava em perigo.

Hernández criticou numerosas vezes a ineficiência do Mecanismo de Proteção a Jornalistas do governo federal em garantir sua proteção ou responder a emergências.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Nota do Instituto Vladimir Herzog sobre últimos acontecimentos na Casa de Detenção do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís (MA)

O Maranhão é o Brasil


A imprensa brasileira e estrangeira, bem como várias organizações internacionais, mostram-se chocadas com a tragédia que se registra no presídio de Pedrinhas, na Ilha de São Luís, próximo à capital do Estado. Esse complexo prisional detém, segundo a Folha de S.Paulo, a horrenda distinção de ser responsável por todas as mortes de presos ocorridas em 2013 no Maranhão e por 28%, quase 1/3, do total de 218 detentos assassinados em 2013 no Brasil.

O quadro execrável que lá se observa, porém, não é exclusivo desse presídio, nem do Maranhão. Todos sabem que o número de presos no País é muito maior que a quantidade de vagas existentes em estabelecimentos prisionais e que a situação lá dentro é a pior possível. Basta ver os números desse levantamento feito pela Folha de S.Paulo.

Então fica-se a discutir como resolver o problema. Fala-se em transferência de presos, isolamento de membros de facções criminosas, maior eficácia e eficiência dos sistemas judiciário e de execuções penais – para evitar que muitos continuem presos mesmo depois de cumprirem a pena, ou de serem beneficiados pela progressão penal, como hoje acontece – coibir a corrupção de agentes prisionais, aprimorar a legislação. Enfim, quando se esfrega na cara da sociedade um desastre social como o de Pedrinhas, surge um grande número de pessoas e entidades a propor soluções.

Claro que a responsabilidade por essa situação é do Estado brasileiro – governos federal e estaduais, ministro da Justiça, ministra dos Direitos Humanos, governadores, parlamentares, todos eles. O Estado e essas autoridades todas que o corporificam são os responsáveis simplesmente porque é seu dever elementar assegurar que pessoas que estão sob sua custódia tenham, no mínimo, sua vida e saúde preservadas. Essas pessoas cumprem penas por terem cometido crimes. Mas não podem ser torturadas nem martirizadas, muito menos assassinadas, em dependências do Estado brasileiro.

Então, quando acontece um caso como o de Pedrinhas, assistimos às manifestações de indignação e revolta da imprensa e de organizações da sociedade civil. Mas será que a sociedade como um todo está indignada? Será que essa nossa sociedade – que em última análise é a responsável pelo Estado brasileiro ser como é – está revoltada com esse horror? Fizemos passeatas contra o preço do transporte público, contra a corrupção, enfim por uma série enorme e até não muito bem definida de reivindicações. Houve quem invadisse um laboratório para de lá retirar à força cães que serviam de cobaia em trabalhos científicos, para evitar que sofressem.

Mas não houve uma palavra contra essa barbárie que acontece nos presídios do Brasil, notadamente no 
Maranhão. Ninguém cobrou das autoridades que ajam decidida, rápida e vigorosamente para impedir que isso continue acontecendo. Parece que nós, o povo brasileiro, achamos que preso é preso, eles lá que se defendam. Não nos ocorre que essas pessoas, por piores que tenham sido seus crimes, estão sob a nossa guarda e por isso não é lícito nem moral permitirmos que sejam tratadas de forma sub-humana.

Dizem agora que, num ano de Copa do Mundo no Brasil, essa situação de Pedrinhas nos envergonha aos olhos do mundo. Pois deveria nos envergonhar, isto sim, aos nossos próprios olhos, aos olhos dos cidadãos brasileiros, que permitimos há décadas a abjeta continuidade e o inadmissível agravamento desse crime do Estado que é nosso.

O Instituto Vladimir Herzog, que propugna o direito à vida, à justiça e aos trinta artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos para todos, exorta os agentes do Estado brasileiro a porem fim a essa ignomínia e conclama cada cidadão e a sociedade nacional a exigirem essa postura.


Instituto Vladimir Herzog