quarta-feira, 30 de maio de 2012

75 Anos de Vladimir Herzog



Instituto Vladimir Herzog promove série de eventos culturais gratuitos em celebração aos 75 anos de nascimento de Vlado
Documentários políticos da América Latina, concertos multimídia no Auditório do Ibirapuera, exposição sobre a Anistia e debate internacional sobre Direitos Humanos são algumas das atrações 
De final de Maio a início de Julho, a cena cultural paulistana recebe eventos gratuitos de cinema, artes gráficas e música erudita que retratam, de forma artística, o impacto de movimentos políticos, como a ditadura e o holocausto, na vida da sociedade contemporânea. A iniciativa é do Instituto Vladimir Herzog, com apoio do Ministério da Cultura, para celebrar os 75 anos de nascimento de Vlado, jornalista que dá nome ao Instituto e foi torturado e assassinado em 1975 pela ditadura em São Paulo. (Agenda completa ao final do texto ou no site www.vladimirherzog.org).
“Além de ter nesses eventos uma forma de celebrar o que representa a vida de Vladimir Herzog no cenário político brasileiro, procuramos reunir atividades gratuitas e culturais que possam contribuir para a discussão sobre a importância da memória para um povo; assunto este muito atual e necessário neste momento em que defendemos a instauração de uma Comissão da Verdade no Brasil”, afirma Ivo Herzog, diretor executivo do Instituto e filho do jornalista. As diferentes linguagens, de filmes a concerto, passando por imagens históricas e mesa-redonda sobre os Direitos Humanos no Brasil, conterão mensagens em favor da democracia, liberdade, direito dos cidadãos à vida e à justiça e fim da violência.
As atrações têm início com a Mostra de Cinema “Memória e Transformação” e Exposição de Cartazes sobre a Anistia, exibidos na Cinemateca Brasileira e, no caso dos filmes, também no CineSESC. Na abertura desses eventos, em 31 de Maio, será exibido o único documentário dirigido pelo jornalista Vladimir Herzog, o curta Marimbás (1963) e o filme Tire diré (1960), de Fernando Birri, mestre do documentarismo argentino, professor e parceiro de Vlado.
A Mostra Memória e Transformação apresentará 49 documentários produzidos a partir de 1950 até os dias atuais sobre o cenário sócio-político latino, com foco em obras que tratam das lutas de resistência às ditaduras militares, governos totalitários e outras formas de opressão do poder contra o povo, grupos étnicos ou minorias. Entre os destaques: O Edifício dos Chilenos (Macarena Aguiró, 2010); Vlado, 30 anos depois (João Batista de Andrade, 2005); Nostalgia da Luz (Patricio Guzmán, 2010), entre muitos outros. A exibição desse último será em formato de aula magna seguida de debate com o diretor chileno Patricio Guzmán, em 8 de Julho.
A exibição dos filmes na Cinemateca ocorrerá de 19 de Junho a 8 de Julho e no CineSESC, de 29 de Junho a 5 de Julho. O público também terá a oportunidade de conhecer, na Cinemateca, a Exposição de Cartazes sobre a Anistia, que conta com 60 expressões artísticas sobre o tema até 8 de Julho.
Outra grande atração gratuita que o Instituto Vladimir Herzog traz a São Paulo é a cantata “O Diário de Anne Frank”, uma produção musical erudita que será apresentada pela primeira vez nas Américas na semana do aniversário de nascimento do jornalista Vladimir Herzog – dias 29 e 30 de Junho e 1º de Julho no Auditório do Ibirapuera. Será, ainda, a primeira vez em todo o mundo que a obra, de autoria de Leopoldo Gamberini (1922 – Abril de 2012) e de Otto Frank, pai de Anne, será apresentada em sua versão integral, com orquestra sinfônica, coral com 110 cantores, bailarina, solista e muitos recursos audiovisuais para retratar a história da menina que foi vítima do holocausto da Segunda Guerra Mundial. Toda a peça será regida pelo maestro brasileiro Martinho Lutero, que recebeu todo o direcionamento para a execução da cantata diretamente de seu autor.
Para finalizar a Semana Vladimir Herzog, em 28 de Junho, o Itaú Cultural recebe a ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República; Amérigo Incalcaterra, representante regional do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos para a América do Sul; e Tito Milgram, curador do Museu Yad Vashem, em Jerusalém (Israel), no Seminário Direito à Verdade e à Memória, mediado por Sérgio Adorno, diretor do Núcleo de Estudos da Violência da USP. Nesse encontro, serão compartilhadas as experiências de países latino-americanos no resgate da memória e justiça aos autores de violências cometidas durante os governos militares (Amérigo), a percepção judaica sobre o holocausto, pela visão de Milgram e os movimentos para maior transparência na História recente do Brasil, pela ministra Maria do Rosário.
A Mostra de Cinema tem patrocínio exclusivo do BNDES por meio da Lei Rouanet de Incentivo à Cultura e apoio do Ministério da Cultura. Os demais eventos organizados pelo Instituto Vladimir Herzog são patrocinados pela Souza Cruz, Camargo Corrêa, Syngenta, Banco Safra e as fundações Arymax e Carlos Chagas, entidade esta mantenedora do IVH, além da parceria com a Cinemateca Brasileira, CineSESC e Itaú Cultural.


Confira as atrações:
Ministério da Cultura e Instituto Vladimir Herzog promovem Mostra de Cinema “Memória e Transformação”
A Mostra de Cinema “Memória e Transformação: o documentário político na América Latina ontem e hoje” apresentará, gratuitamente, 49 documentários produzidos a partir dos anos 50 até os dias atuais sobre o cenário sócio-político latino-americano.
A exibição dos filmes na Cinemateca ocorrerá de 19 de Junho a 8 de Julho e no CineSESC, de 29 de junho a 5 de julho. O público também terá a oportunidade de conhecer, na Cinemateca, a Exposição de Cartazes sobre a Anistia, que conta com 60 expressões artísticas sobre o tema até dia 08 de Julho.
Alguns dos filmes que compõem a mostra:
·      Vlado, 30 anos depois, Brasil, João Batista de Andrade
·      O Edifício dos Chilenos, Chile, de Macarena Aguiró
·      A Ilha, Arquivos de uma tragédia, Guatemala, de Uli Seltzer
·      Diário de uma Busca, Brasil,de Flávia Castro
·      Nostalgia da Luz, Chile, de Patricio Guzman
·      Hércules 56, Brasil, de Silvio Da-Rin
·      Utopia e Barbárie, Brasil, de Silvio Tendler
Ainda como parte da Mostra de Cinema, 60 estudantes universitários de Cinema poderão inscrever-se em um curso gratuito com o cineasta chileno Patricio Guzmán, de 4 a 7 de Julho, que estará em São Paulo especialmente para o evento e poderá compartilhar suas técnicas com esses alunos. Para participar, os interessados devem inscrever-se no site do Instituto Vladimir Herzog (www.vladimirherzog.org/mostra), onde também receberão instruções para a seleção. O encerramento será aberto ao público, quando Guzmán dará uma aula magna na Cinemateca com a apresentação de seu documentário Nostalgia da Luz (2010), seguido de debate sobre a obra. 
==Coquetel de Lançamento
Exibição dos curtas Marimbás (Vladimir Herzog, 1963), Tire diré (Fernando Birri, 1960) e Birri & Vlado (Marina Weis, 2012)
Data: 31 de Maio
Horário: 19h
Local: Cinemateca Brasileira (Largo Senador Raul Cardoso, 207)
==Exposição de cartazes sobre a Anistia
De 31 de Maio a 8 de Julho na Cinemateca Brasileira
== Mostra de Cinema Memória e Transformação
De 19 de Junho a 8 de Julho na Cinemateca Brasileira
De 29 de Junho a 5 de Julho no CineSESC (Rua Augusta, 2075)
== Curso de Cinema com Patricio Guzmán
Data: 4 a 7 de Julho
Horário: das 16h30 às 20h30
Local: Cinemateca Brasileira (Largo Senador Raul Cardoso, 207 – São Paulo)
Vagas: limitadas a 60 alunos – inscrição pelo site www.vladimirherzog.org/mostra
==Aula Magna com Patricio Guzmán
Data: 8 de Julho
Horário: das 18h às 21h, com a exibição do filme Nostalgia da Luz, dirigido pelo cineasta, seguido de debate sobre o tema.  


 Aberto ao público

Cantata multimídia O Diário de Anne Frank
no Auditório do Ibirapuera, com entrada franca
Exibido pela primeira vez nas Américas, O Diário de Anne Frank vem a São Paulo a convite do Instituto Vladimir Herzog para celebrar os 75 anos de nascimento de Vlado. O espetáculo internacional terá apresentações nos dias 29 e 30 de Junho e 1 de Julho no Auditório do Ibirapuera, com entrada franca ao público. A cantata será regida pelo maestro brasileiro Martinho Lutero Galati, que comandará cerca de 180 pessoas no palco, entre 110 cantores do Coro Luther King, a Orquestra Sinfônica de Campinas, o soprano Olga Sober (Saraievo), a cellista Yuriko Mikami (Japão), a atriz e bailarina Clarisse Abujamra dançando coreografia de Décio Otero (Ballet Stagium) e Naum Alves de Souza. Além de música e dramaturgia, conta ainda com efeitos visuais produzidos pelo designer Kiko Farkas.
Será a primeira vez em todo o mundo que a obra, de autoria de Leopoldo Gamberini (1922 – Abril 2012) e de Otto Frank, pai de Anne, será apresentada em sua versão integral, com orquestra sinfônica, coral com 110 cantores, bailarina, solista e muitos recursos audiovisuais para retratar a história da menina que foi vitimada pelo holocausto da Segunda Guerra Mundial. Toda a peça será regida pelo maestro brasileiro Martinho Lutero Galati, que recebeu todo o direcionamento para a execução da cantata diretamente de seu autor.
Natural de Minas Gerais (Alpercatas), o maestro Martinho ingressou na música muito jovem. Aos 17 anos, após experiências na regência de concertos no Teatro Municipal de São Paulo e do Coro da Juventude Musical de São Paulo, fundou a Rede Cultural Luther King, onde dirigiu mais de 2000 concertos. Após mais estudos em Buenos Aires, na Argentina, parte para Moçambique, na África, para um trabalho de pesquisa sobre música tradicional a serviço da UNESCO. Atualmente, Martinho Lutero Galati é professor do Instituto de Musicologia de Milão, na Itália, regente da Piccola Orchestra Sinfônica di Milano e ainda trabalha com teatros na Alemanha e Suíça. É diretor, até hoje, da Rede Cultural Luther King.    
“Tive o imenso prazer de conhecer e aprender com o senhor Gamberini, que me apresentou toda a peça e seus detalhes para uma execução completa, adicionando expressões variadas à composição sinfônica, como dança, canto e recursos eletrônicos que deixam o cenário de guerra ainda mais realista”, conta o maestro Galati.
A história da menina Anne será interpretada pela violoncelista Yuriko Mikami e do soprano Olga Sober (Saraievo). A mulher madura em que ela se transforma nessa nova narrativa é a atriz e bailarina Clarisse Abujamra, que celebrará a vida por meio de sua leve dança, coreografada por Décio Otero, fundador do Ballet Stagium. As vozes do Coro Luther King e a Orquestra Sinfônica de Campinas, completam o elenco dirigidos cenicamente por Naum Alves de Souza.

“Estamos muito contentes em trazer essa grande obra ao Brasil, principalmente porque será na celebração dos 75 anos de nascimento de Vlado que a peça será executada pela primeira vez integralmente, em todo o mundo. A história de Anne Frank se tornou um verdadeiro símbolo de resistência à violência, que transcende ao período do nazismo e é mais uma face da História que queremos relembrar em defesa dos direitos humanos em todas as sociedades e em todos os tempos”, completa Ivo Herzog.
== Cantata O Diário de Anne Frank
Datas: 29 e 30 de Junho e 1º de Julho
Horários: sexta-feira e sábado, às 21h
                  Domingo às 19h
Local: Auditório do Ibirapuera – Parque do Ibirapuera
Entrada: gratuita mediante retirada de ingressos.
Ficha técnica:
O Diário de Anne Frank
Cantata cênica para orquestra sinfônica, coro e soprano solista.
Compositor: Leopoldo Gamberini ( Itália 1922-2012 )
Coro Luther King
Orquestra Sinfônica de Campinas
Yuriko Mikami (Japão) - violoncelo
Olga Sober (Saraievo) - soprano
M° Martinho Lutero Galati – direção artística
Clarisse Abujamra – dança e textos
Naum Alves de Souza - cena

Seminário Direito à Verdade e à Memória
Em 28 de Junho o Itaú Cultural recebe o Dr. Marco Antonio Rodrigues Barbosa, presidente da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos, Amérigo Incalcaterra, representante regional do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos para a América do Sul, e Tito Milgram, curador do Museu Yad Vashem, em Jerusalém (Israel), no Seminário Direito à Verdade e à Memória, mediado por Sérgio Adorno, diretor do Núcleo de Estudos da Violência da USP. Nesse encontro, serão compartilhadas as experiências de países latino-americanos no resgate da memória e justiça aos autores de violências cometidas durante os governos militares (Amérigo), a percepção judaica sobre o holocausto, pela visão de Milgram e os movimentos para maior transparência na História recente do Brasil, pela ministra Maria do Rosário.
== Seminário Direito à Verdade e à Memória
Data: 28 de Junho
Horário: às 20h
Local: Itaú Cultural – Avenida Paulista, 149
Entrada gratuita

Sobre o Instituto Vladimir Herzog:
Criado em 25 de Junho de 2009, o Instituto Vladimir Herzog tem a missão de contribuir para a reflexão e produção de informações que garantam o direito à vida e o direito à justiça. Sua fundação se inspirou na trajetória de vida do jornalista Vladimir Herzog, assassinado em 1975 pela ditadura, bem como nos principais valores ligados a essa trajetória: democracia, liberdade e justiça social.
Tendo como bandeira a frase de Herzog “Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados”, o Instituto é uma OSCIP, organização sem fins lucrativos, com neutralidade político-partidária.
Mais informações podem ser encontradas no endereço do
www.vladimirherzog.org.br.


INFORMAÇÕES PARA IMPRENSA
CDI Comunicação Corporativa
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quinta-feira, 17 de maio de 2012

Tem hora que sinto orgulho


 Roldão Arruda

No início da década de 1970, quando comecei a trabalhar como jornalista, havia um sinistro quadro de avisos na redação daFolha de Londrina. Eram afixados ali, com percevejos de latão, telegramas do Departamento de Censura da Polícia Federal. Lacônicos e brutais, constituíam uma longa lista de temas interditos. Não estavam autorizadas denúncias de corrupção. Se a Anistia Internacional divulgava no exterior uma lista com nomes de opositores da ditadura presos, torturados e desaparecidos, o telegrama da polícia chegava à redação antes da notícia.

Já em 1977, quando soube que o deputado federal Alencar Furtado, cassado por criticar a brutalidade do sistema, estava de passagem por Londrina, corri até o hotel onde se hospedava, para uma entrevista. Nunca consegui publicá-la, porque as declarações dele estavam proibidas.

No final da década o quadro começou a mudar. Com muita luta, iniciou-se o a reabertura democrática. De lá para cá tivemos uma anistia política e uma assembleia constituinte, garantimos aos analfabetos o direito ao voto e elegemos de maneira direta quatro presidentes, entre eles um intelectual de alta envergadura e um ferramenteiro de origem nordestina. A imprensa nunca teve tanta liberdade para investigar e denunciar atos de corrupção como tem hoje. O Judiciário deixou de ser um poder intocável. As Forças Armadas estão cada vez mais restritas ao seu papel constitucional. A transparência tornou-se a palavra do momento.

Conseguimos avançar nesse período democrático apesar das cassandras que a todo momento nos advertiam sobre os riscos ocultos atrás das mudanças. A anistia faria o país retroceder, a eleição direta era prematura, a Constituinte levaria o País ao caos, a eleição de Lula arrasaria a economia.

Lembrei de tudo isso assistindo hoje pela manhã à cerimônia de instalação da Comissão da Verdade, que vai investigar fatos ocorridos durante a ditadura militar. Tive um momento de orgulho de meu país ao ver os ex-presidentes reunidos com Dilma Rousseff e os chefes militares sentados na plateia. Posso ter críticas a cada um deles, mas naquele momento olhei os cinco como representantes institucionais do Estado brasileiro e do período democrático que, apesar dos trancos e barrancos, já dura 27 anos – o mais longo da história do País. Lembrei que esse tipo de encontro é comum nos Estados Unidos e em outros países que admiramos pela suas regras democráticas.

No momento em que a presidente Dilma homenageou os que lutaram pela restauração da democracia, também lembrei do quadro sinistro no jornal londrinense onde tive meu primeiro emprego. Espero que a Comissão da Verdade tenha um papel educativo, para evitar que os telegramas, que hoje provavelmente seriam e-mails, nunca mais façam parte da rotina das redações.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

INSTITUTO VLADIMIR HERZOG APLAUDE NOMEAÇÃO DOS MEMBROS DA COMISSÃO DA VERDADE



A nomeação dos integrantes da Comissão da Verdade, pela Presidenta Dilma Rousseff, para investigar as violações dos direitos humanos ocorridas entre  1946 e 1988, merece o aplauso dos cidadãos e de toda a sociedade brasileira, que prezam a democracia, a transparência, a liberdade e o resgate e preservação da memória nacional.

Especialmente merecedora de aplauso é a decisão de situar a Comissão como órgão de Estado, não de governo, colocando-a dessa forma acima de indivíduos, partidos, governantes e grupos. E essa postura sábia, elevada e generosa é reforçada pelo convite aos quatro ex-presidentes vivos dos anos pós-ditadura para que participem da instalação formal da Comissão.

Ao saudar a indicação dos homens e mulheres que darão vida à Comissão da Verdade, o Instituto Vladimir Herzog manifesta seu ardente desejo de que, com equilíbrio, sobriedade e decisão, eles revelem finalmente todos os atentados cometidos em anos recentes contra os direitos humanos no Brasil e exponham seus autores ao tribunal da opinião pública da Nação brasileira e à sociedade internacional.