terça-feira, 28 de maio de 2013

VLADO PROTEÇÃO AOS JORNALISTAS



SOLIDARIEDADE AO JORNALISTA EMILIANO JOSÉ

O jornalista e escritor Emiliano José teve a coragem de denunciar através da imprensa – artigo n’A Tarde de 11/02, o pastor Átila Brandão como torturador à época da Ditadura Militar, tendo como testemunhas Dona Maria Helena Afonso de Carvalho e seu filho, o historiador e professor Renato Afonso de Carvalho. Ela era uma espécie de genitora de muitos presos políticos que afetuosamente a conheciam como Dona Yaiá. Evangélicos progressistas solidarizaram-se com Emiliano reafirmando o carreirismo e reacionarismo deste pastor que desde os tempos em que estudava na faculdade de direito na UFBA, contemporâneo de Renato Afonso, perseguia estudantes a serviço dos órgãos de informação. Incomodado com sua exposição pública, Átila Brandão encaminhou queixa-crime por calúnia visando processar e intimidar Emiliano. Com forte dose de apelo moralista - própria de religiosos fundamentalistas -, Átila Brandão é pessoa conhecida no mundo evangélico, além de ostentar funções de representação diplomática, como se tal título fosse passaporte à impunidade.

Neste ínterim, Emiliano voltou à carga e, criterioso com suas fontes, fez longa entrevista com Renato Afonso que resultou no artigo Corpo amputado querendo se recompor, já postado no site da Revista Carta Capital, onde não só confirma o fato da tortura no Quartel de Dendezeiros, como narra outros episódios de perseguição e sofrimento vivenciados em masmorras no Rio de Janeiro, nos anos 70, auge da ditadura militar. Por pouco Renato Afonso não teve o destino de tantos combatentes que sofreram sevícias até a morte, algumas indizíveis como as relatadas pelo cruel delegado Cláudio Guerra, através do livro Memórias de Uma Guerra Suja e em recente edição da mesma Carta Capital.

Jornalista, escritor e suplente de deputado federal pelo PT, Emiliano José, amargou 4 anos de prisão e sofreu na própria pele a violência das torturas tantas vezes relatadas por ele mesmo sobre outras pessoas em dezenas de artigos e livros que prolificamente vêm produzindo. O marco desta missão que se impôs foi 'Lamarca, o capitão da guerrilha', junto com o ex-preso e jornalista Oldack Miranda, lançado ainda em 1989, numa época de muitas incertezas sobre o futuro de nossa titubeante democracia.

O compromisso e a coragem de Emiliano com a Memória e a Verdade marca sua trajetória de vida desde os tempos de sua militância estudantil, quando foi líder nacional pela UBES - União Brasileira de Estudantes Secundaristas, passando pela cidadania ativa que exerceu ainda na cadeia e, em seguida como dedicado professor e parlamentar atuante. Este episódio, como tantos outros relatados por Emiliano ganha especial ressonância ao inserir-se entre as iniciativas que a Comissão Nacional da Verdade e o Comitê Baiano Pela Verdade estão tomando para identificar pessoas e instituições que se prestaram a ilegalidades e violações, feriram a dignidade humana, ceifaram vidas ou deixaram marcas no corpo e na alma de milhares de brasileiros e baianos inconformados com o fim da democracia e das liberdades.  Dar publicidade e expor o pastor e ex-militar Átila Brandão à vergonha de seus familiares, amigos e funcionários por um passado tão repelente é o mínimo que podemos fazer testemunhando em solidariedade ao cidadão Emiliano José.

Salvador, 07 de maio de 2013

- José Carlos Zanetti – economista, assessor de projetos da CESE e membro do Comitê Baiano Pela Verdade

- Eliana Rolemberg – socióloga, Diretora Executiva da CESE

- Diva Santana – vice-presidene do Grupo Tortura Nunca Mais e membro da Comissão da Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos

- Joviniano Carvalho Neto – sociólogo, professor de Ciência Política e presidente do Grupo Tortura Nunca Mais

Penildon Silva Filho – Professor da UFBA

-Andrea Tourinho –Defensora Pública do Estado da Bahia e Professora Universitária

VLADO PROTEÇÃO AOS JORNALISTAS




Jornalista da EBC é assassinada a tiros no AM

Paula Litaiff, O Globo
A Polícia Civil do Amazonas está investigando os responsáveis pela morte da gerente da Rádio Nacional no município de Tabatinga, Lana Micol Cirino, de 30 anos. A cidade é a 1.116 km de Manaus. Ela foi assassinada com três tiros na cabeça no último domingo (26) na frente da filha de sete anos.
Lana foi abordada, no momento em que entrava em casa, por dois homens não identificados que estavam em uma motocicleta. Segundo testemunhas, o carona da motocicleta disparou pelo menos oito vezes contra a radialista. Ela chegou a ser levada para o Hospital de Guarnição do Exército, mas não resistiu aos ferimentos.  


sexta-feira, 24 de maio de 2013

OLHAR INDIGESTO


Reportagem produzida por um dos três grupos vencedores do Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão em 2012 foi publicada pelo portal Pública e está no link http://www.apublica.org/2013/05/olhar-indigesto-ditadura-familia/ . A matéria, intitulada  Olhar Indigesto, é de autoria dos estudantes Daniele C. Ramos, Alexandre Gabriel Ferreira Monteiro e Jessica Campos da Mota, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em trabalho orientado pela professora dra. Denise Paiero. 

segunda-feira, 20 de maio de 2013

"O medo que a ditadura injeta"



Uma faceta relevante da missão do Instituto Vladimir Herzog é resgatar a História recente do Brasil – e, por decorrência, da América Latina – para conscientizar as gerações mais novas sobre as angústias e os medos daqueles que viveram sob a ditadura que mandou no País entre 1964 e 1985. Dedicamo-nos a esse trabalho não apenas para lamentar o passado e suas vítimas, como o próprio Vladimir Herzog, mas principalmente para imprimir nas mentes e corações dos mais moços –  que não sofreram a opressão de uma ditadura – a convicção de que a democracia, por definição sempre imperfeita e eternamente a exigir aperfeiçoamentos, é o único arcabouço político que a humanidade pode admitir. Para que jamais voltemos a vergar sob uma ditadura. De ninguém. Civís, militares, direita, esquerda, tiranos de qualquer laia são inaceitáveis. A liberdade na democracia é o ar que o ser humano requer para poder viver.

Para mostrar como se sentem as pessoas em uma ditadura – a atmosfera permanente de medo que a todos oprime e reprime – reproduzimos a seguir artigo de Clovis Rossi na Folha de S. Paulo de 18/5/2013, por ocasião da morte do general Jorge Rafael Videla, que chefiou entre 1976 e 1981 a ditadura na Argentina. Ditadura responsável, estimam organizações de direitos humanos, pela morte de cerca de 30 mil pessoas.

Nemércio Nogueira


Depoimento: Sofri o medo que as ditaduras injetam no corpo e na alma

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Jorge Rafael Videla, o maior símbolo da ditadura argentina do período 1976/83, morreu onde devia mesmo morrer: na cadeia.
Não é o caso de fazer um balanço do que foi esse terrível período da história argentina, prenhe, aliás, de períodos terríveis.
Só vou falar do medo, o medo tremendo que ditaduras injetam no corpo e na alma até de quem, como eu, nem argentino sou.
Medo que começou quando a sucursal da Folha em Brasília iniciou as gestões junto à embaixada argentina para que eu obtivesse o visto de residência, já que havia sido designado correspondente do jornal em "mi Buenos Aires querido".
Era 1980, Videla era o presidente de turno da ditadura. A informação inicial foi a de que não me dariam o visto porque eu não era jornalista, "era militante".
Não era exatamente mentira. Nunca militei em partido algum, mas militava, sim, como voluntário em defesa dos direitos humanos, sob o generoso guarda-chuva da Arquidiocese de São Paulo, então comandada por dom Paulo Evaristo Arns.
Ser carimbado como militante pela ditadura argentina equivalia quase a uma sentença de morte. Por isso, hesitei a princípio em assumir o posto, ainda mais pelo risco a que exporia a família.
Mas acabei indo, torcendo para que o fato de ser correspondente funcionasse como um habeas corpus preventivo, embora precário.
Funcionou em termos. Até que, um dado dia, apresenta-se em meu apartamento Eduardo Pereyra Rossi (sem parentesco), um dos sete "comandantes", como os Montoneros, o grupo peronista dedicado à luta armada, chamava seus principais líderes.
Era um dos sete homens mais procurados pela máquina de matar dos militares. Eduardo me fora apresentado em São Paulo, durante as férias, por um amigo comum.
Conversamos um bom tempo. Ao despedir-se, me pediu que eu observasse da sacada até que ele dobrasse a esquina. Se fosse preso antes, que eu fizesse a denúncia.
Eduardo, naquele dia, dobrou a esquina, mas uns dez dias depois, foi morto em um suposto "enfrentamiento".
Aí, começaram os problemas mais sérios. Primeiro, um roubo no apartamento, quando estávamos todos fora, em que levaram notas de US$ 50 e US$ 100, mas deixaram as de US$ 10. Você conhece ladrão comum que deixa notas de dólar encontradas na mesma gaveta em que estavam as roubadas?
O objetivo era deixar a mensagem de que eu estava sendo vigiado e podiam fazer o que quisessem. Após outro episódio similar, chamamos a polícia, que, porém, não procurou impressões digitais nas portas, alegando que em portas de madeira não ficam impressões digitais.
Depois, começou o seguimento na rua. Notei que um baixinho gordinho aparecia frequentemente em locais a que eu ia. Um dado dia, apareceu na porta da galeria em que ficava a lavanderia a que eu levava a roupa (a família estava de férias no Brasil).
Depois, reapareceu na estação do metrô perto de casa, e desceu na mesma estação que eu. Eu havia marcado encontro com um advogado (comunista) da Liga dos Direitos do Homem, num café da praça Lavalle, no centro.
Entrei no café, sentei e, pelos janelões, vi que ao baixinho gordinho se juntara um mais alto, espigado, de óculos escuros, bolsa tipo capanga embaixo do braço. Ficaram olhando para o café, e eu olhando para eles.
O advogado não apareceu. Deduzi que havia sido preso, que meu nome e telefone estavam na agenda dele e por isso eu estava sendo seguido.
Saí depois de uma hora de espera. Quando dei meia volta após um tumulto qualquer na pracinha, dei de cara com o baixinho gordinho, que me seguiu até o metrô.
Pouco mais tarde, vou almoçar no café da esquina de casa. Não demora e entram o baixinho gordinho e o da bolsa capanga. Não consigo comer, já aterrorizado.
Vou à sede da Liga dos Direitos do Homem, saber do meu amigo advogado. Não estava, não aparecia havia dias. Parecia confirmar-se a minha dedução sobre sua prisão.
Desço e, no térreo, ao fechar a porta pantográfica do elevador (prédio antigo, elevador antigo), dou de cara com um gigante de 2 metros de altura. Pensei: "Agora, engrossaram e mandaram um bem grandão para me fazer desaparecer". Era apenas a minha imagem no espelho. O episódio me ensinou o efeito devastador que o medo provoca, em situações que você não pode controlar.

A Folha achou prudente antecipar viagem já programada para a América Central para cobrir as guerras em andamento. Fui e mesmo tendo caído em fogo cruzado em El Salvador, eu ao menos sabia quem era quem e de onde vinha o perigo.
Na guerra argentina, o terror era promovido pelas sombras de um Estado tomado por uma máquina de matar.

PS - Meu amigo advogado tinha apenas ido visitar a mãe doente no interior.



quarta-feira, 8 de maio de 2013

Compromisso de Risco



A revista da ESPM acaba de publicar matéria de Milton Bellintani sobre jornalistas ameaçados no Brasil.

A matéria, que está no link abaixo, aborda as ameaças e assassinatos de jornalistas, durante a ditadura e de 1992 para cá - época em que temos estatísticas confiáveis - com foco nos exílios recentes de Mauri König e André Caramante.












sexta-feira, 3 de maio de 2013

VLADO PROTEÇÃO AOS JORNALISTAS





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UNESCO e UNIC Rio lançam publicação e site sobre Plano de Ação da ONU sobre Segurança de Jornalistas em português

2 de maio de 2013 · Comunicados
UNESCO e UNIC Rio lançam publicação e site sobre
              Plano de Ação da ONU sobre Segurança de Jornalistas em
              portuguêsPara marcar o Dia Mundial de Liberdade de Imprensa – 3 de maio – a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) no Brasil e o Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio) lançam nesta quinta-feira, 2 de maio, a versão em português do “Plano de Ação das Nações Unidas sobre a Segurança de Jornalistas e a Questão da Impunidade”.
O documento, elaborado em conjunto por agências, fundos e programas da ONU, foi criado para apoiar o direito fundamental de liberdade de expressão, assegurando que os cidadãos sejam bem informados e participem ativamente na sociedade.
Também está sendo lançado o site www.segurancadejornalistas.org onde poderão ser encontradas – além do Plano de Ação – informações sobre sua adoção, dados sobre a violência contra profissionais de mídia do Brasil e do mundo e notícias sobre o tema.
A estratégia de implementação do Plano de Ação, traduzido para o português pelo Instituto Vladimir Herzog, inclui:
• Ajudar governos a desenvolver leis de salvaguarda de jornalistas e mecanismos favoráveis à liberdade de expressão e informação;
• Conscientização de cidadãos para que compreendam as consequências danosas de quando a liberdade de expressão de um jornalista é cerceada ou reduzida;
• Treinamento para jornalistas em segurança e segurança digital; provisão de plano de saúde e seguro de vida;
• Estabelecer mecanismos de resposta de emergência em tempo real;
• Fortalecer a segurança de jornalistas em zonas de conflito;
• Descriminalização da difamação;
• Encorajar remuneração adequada para funcionários em tempo integral e profissionais freelance;
• Incrementar a proteção a mulheres jornalistas em resposta à crescente incidência de assédio sexual e estupro.
Em mensagem conjunta por ocasião do Dia Mundial de Liberdade de Imprensa, o Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, e a Diretora-Geral da UNESCO, Irina Bokova, alertam que mais de 600 jornalistas foram mortos nos últimos dez anos, muitos durante a cobertura de situações não conflituosas.
“Um clima de impunidade permanece – nove entre dez casos de assassinato de jornalistas ficam impunes. Muitos jornalistas também sofrem intimidações, ameaças e violência, ou são detidos de forma arbitrária e torturados, frequentemente sem acesso a recursos legais”, afirmam.
“Devemos mostrar determinação diante de tal insegurança e injustiça. O tema do Dia Internacional da Liberdade de Imprensa deste ano, ‘Falar sem medo: assegurando a liberdade de expressão em todas as mídias’, busca reunir ações internacionais a fim de proteger a segurança dos jornalistas em todos os países e quebrar o círculo vicioso da impunidade”, ressaltam Ban e Bokova, segundo os quais esses objetivos são a base do Plano de Ação das Nações Unidas sobre a Segurança dos Jornalistas e a Questão da Impunidade.
Todas as informações em www.segurancadejornalistas.org 

Informações para a imprensa

UNESCO no Brasil
Ana Lúcia Guimarães, ana.guimaraes@unesco.org.br / (61) 2106.3536
Isabel de Paula, isabel.paula@unesco.org.br / (61) 2106.3538
UNIC Rio
Valéria Schilling, valeria.schilling@unic.org ou Gustavo Barreto, gustavo.barreto@unic.org
Telefone: (21) 2253-2211